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YORGE RUIZ

POR FRANCISCO FÉLIX E LAIS OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Cineteatro São Luís, na Praça do Ferreira, é ponto conhecido pelos fortalezenses por toda a sua importância histórica e cultural.  Mas de segunda à sexta, além de assistir filmes e peças teatrais, é possível também conhecer o trabalho de um jovem venezuelano que logo ali na frente impressiona quem passa pela perfeição e beleza do seu trabalho como estátua viva. Acompanhado sempre de sua fiel companheira, a cadela chamada Jaspe, Yorge Ruiz, de 26 anos, interpreta o papel de um pescador com um traje bem produzido e um cenário detalhado, encantando a todos os transeuntes do centro da cidade, desde 2015, com sua arte.

A história de Ruiz como artista de rua começa ainda na Venezuela, seu país de origem, quando há seis anos começou a fazer estatuísmo. De início, ele estudava fotografia e trabalhava para conseguir pagar o curso. Porém com o agravamento dos problemas econômicos no país caribenho, o artista foi obrigado a parar de estudar para destinar todo o seu tempo ao trabalho. Foi nesse período que o estatuísmo entrou na sua vida. Ele tinha colega que já atuava na área, porém como outro personagem, e emprestou esse personagem a Ruiz durante uma semana para que assim ele assim conseguisse dinheiro para montar seu próprio personagem.

O jovem relata que sua vinda ao Brasil foi motivada principalmente pelo difícil cenário econômico e político em que seu país se encontra. “Lá não tem nada! Não tem comida! Não tem oportunidade! Não tem nada! E quem vai ficar em um país quando tá todo ruim, que tá todo em crise? É muito difícil! Não dá pra você trabalhar todo um dia para depois que você trabalhar, pegar o dinheiro e esse dinheiro só vai dar um arroz!”, desabafa o artista.

 

 

"Tem pessoas que ainda não acreditam que a gente é verdadeiro!”

 

Foi assim que Ruiz resolveu deixar seu lar e atravessar 2808 Km rumo ao desconhecido, em busca de melhores condições de vida e maiores oportunidades de mostrar sua arte como estátua humana. Durante essa viagem, em Manaus, Ruiz comprou a cachorrinha Jaspe, hoje com três anos, que o acompanha na sua performance na Praça do Ferreira durante a semana e na Beira Mar aos sábados e domingos. O artista conta que a inspiração para o personagem do pescador veio das ilhas no Mar do Caribe que marcam o território da Venezuela: “Vou fazer um pescador! Sempre tem turista, eles vão gostar!”, conta ele.

Sobre os motivos que o incentivam a continuar o seu trabalho como artista de rua, Ruiz diz se divertir com as pessoas que não acreditam que ele não é uma estátua de fato:“Tem pessoas que ainda não acreditam que a gente é verdadeiro!”. O rapaz também relata que recebe muitos comentários positivos e que isso o entusiasma. Em contrapartida, Ruiz menciona alguns episódios que já o fizeram pensar em desistir. Logo no primeiro dia na praça, pessoas chegaram a acusá-lo de maus tratos à Jaspe, a polícia foi chamada e só não levaram a cadela porque outro grupo de pessoas o defendeu. A xenofobia também é outro obstáculo enfrentado pelo venezuelano que afirma já ter ouvido dizeres do tipo “sai fora, você não é brasileiro, você tá ilegal!”. Além do mais, Ruiz assume que a tarefa de permanecer parado e sem falar por aproximadamente seis horas por dias não é nada fácil: “Tem dias que cansa as pernas, tem dias que a cabeça também cansa”. Apesar de tudo, ele garante se sentir feliz realizando o seu trabalho.

 

 

 

 

 

 

 

"Meu sonho seria ir a um festival, ganhar..."

 

A relação entre Ruiz e Jaspe é de muito carinho e companheirismo. A cachorrinha atende a todos os comandos do dono que tem o cuidado de sempre deixar ali por perto água e comida para ela . Todos que passam pela praça além de ficarem encantados com a estátua do pescador se admiram igualmente com a performance de Jaspe. A popularidade de cadela impressiona; a conta no Instagram da cachorrinha conta com quase seis mil seguidores.

Toda essa popularidade já rendeu a Ruiz dois convites para festivais internacionais de estatuísmo na Europa, que ele sonha em ir para apresentar seu trabalho.“Meu sonho seria ir a um festival, ganhar [...] porque de todo o mundo só tem um que é o melhor!”, ele conta. No entanto, os recursos financeiros são escassos e a sua situação como imigrante dificulta todo o processo. Ainda assim, Ruiz não deixa de fazer seu trabalho com paixão e entrega, na esperança de que um dia ele e Jaspe consigam um lugar em outros palcos, além da rua, que todos os dias assiste ao pescador e à sua cachorrinha se prepararem para o espetáculo silencioso.

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