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RAFAEL FLORES

POR LUCAS FALCONERY

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando o conhecido sol forte da cidade começa a baixar e as ruas passam a ser iluminadas pelas cores dos faróis, dos semáforos e dos refletores, Rafael entra em cena. Artista de rua, 32 anos, ele é natural do Chile. Há 12 anos como malabarista, já passou por diversos países latino-americanos e estados brasileiros, até chegar no Ceará. O artista relata que as circunstâncias fluíram para a sua permanência em Fortaleza: “Eu cheguei aqui, não escolhi vir pra cá." 

 

Rafael Flores, atualmente, trabalha nas avenidas do bairro Benfica. Criou, em parceria com outros artistas, o coletivo Os Desconhecidos, que há três anos apresenta espetáculos que unem malabares e humor cearense. O grupo também realiza o evento Palco Aberto, promovendo o encontro de vários artistas na praça da Gentilândia na primeira terça-feira de cada mês.

"Fazer o que tu gosta não tem preço"

Sobre as dificuldades do ofício, Rafael coloca que aprender a técnica do malabarismo é difícil e o contato com as pessoas envolve responsabilidade. É preciso estar consciente de reações adversas por parte de alguns. “Eles [motoristas e pedestres] estão em um outro mundo, só querem chegar em casa. Antigamente,  eu ficava com muita raiva quando alguém xingava, mandava trabalhar. Até hoje eu fico, mas não expresso mais isso. O problema é deles. Eu adquiro o problema quando entro na jogada deles. Mas, fazer o que tu gosta não tem preço", ele afirma. 

 

O artista compara seu trabalho com um emprego formal e diz não se ver trabalhando de outra forma que não seja em contato com a rua, e nem por um salário fixo deixaria de fazer o que gosta. Conta, ainda, sentir na rua sua tranquilidade e, participar de festivais artísticos, por exemplo, tem pontos negativos pois, os atrasos de pagamento são constantes. “Aqui [na rua], tu tem que estar [ganhando] moeda a moeda. Só que ainda assim continua sendo mais tranquilo. Não preciso colocar um figurino para trabalhar, agora para o espetáculo eu preciso de material gráfico, pagar figurinista", reflete. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"O sinal é meu salva-vidas"

Flores conta que quando as finanças estão mais equilibradas, ele diminui a frequência do trabalho na rua: “O sinal é meu salva-vidas, se apertar, eu venho pro sinal todo dia. Eu faço isso há dez anos! Eu já tô cansado. Mas eu gosto de voltar porque me faz bem”. Antigamente, relata, só usava o dinheiro para pagar estadia e alimentação, mas surgiram outras responsabilidades, como as contas e os cuidados com seus cachorros.

 

Perguntado sobre seu maior sonho, responde: “Eu vivo nele. Conhecer os lugares que eu quero, ir para a praia mais linda que eu acho. Eu vivo meu sonho há quinze anos”. Dentre as suas lembranças marcantes, ele destaca o dia em que saiu de casa e o dia quando voltou dez anos depois. Flores diz manter contato com suas cinco irmãs e sua mãe através da internet. Sua família ainda não conhece Fortaleza, tanto por questões financeiras quanto pela saúde frágil da mãe. 

 

Ainda sobre suas viagens, Rafael disse que exceto Porto Alegre e Curitiba conheceu todas as capitais brasileiras. “Eu parei de viajar com mochila nas costas e fazer sinal. Mas eu continuo viajando com o espetáculo da gente”. Nos últimos dois anos, o coletivo visitou estados como Piauí, Maranhão, Tocantins e Goiás. Para 2018, o grupo está organizando a convenção cearense de circo, que demanda cerca de oito meses para pré produção, Enquanto isso, o malabarista continua pelas avenidas de Fortaleza.

 

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