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NAJA

POR LAIS OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os movimentos são rápidos e precisos. Os dedos se transmutam em pincéis e as cerâmicas se tornam telas para abrigar cenários deslumbrantes. A agilidade e a graciosidade das mãos de Naja lembram a serpente que ele leva no nome. Toda essa habilidade revela a experiência dos seus 32 anos como artista de rua criando quadros com a técnica de pintura a dedo em cerâmica. Depois de passar pelos 26 estados do Brasil e alguns países da América Latina levando sua arte, hoje é na Praça do Ferreira, no centro de Fortaleza, que Euclides dos Ramos Apolinário, de 61 anos, ou Naja, pinta as suas telas atraindo a atenção de quem passa por ali.

Natural da cidade de Santa Rita, na Paraíba, Naja conta que deixou para trás o emprego fixo de funcionário público para realizar o sonho de viajar Brasil e mundo afora, conhecendo culturas de outros lugares e levando sempre o seu talento na mala. Naja se considera “artista de rua itinerante” pois em suas viagens costuma explorar o máximo dos locais onde vai e só então partir para outros destinos. Atualmente, o pintor reside com a mulher e a filha no município de Paracuru, localizado a 87 km de Fortaleza. Entretanto, Naja só encontra a família durante os fins de semana porque de segunda à sábado sua casa é a capital, onde diz que é possível encontrar mais oportunidades de valorização do seu trabalho.

 

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"Enquanto fala, as mãos de Naja não param..”

 

Há 25 anos, o nome que ele assinava em seus quadros era “Ninja”, mas os amigos sugeriram que “Naja” fazia uma referência melhor, mais forte. E sem dúvidas, acertaram. Enquanto fala, as mãos de Naja não param, a cerâmica que estava em branco ainda no começo da entrevista vai ligeiramente ganhando as cores e formas de um lindo dia de sol. Ele pinta o segundo quadro que faria parte de uma coleção três paisagens criadas naquele momento, retratando “O Dia, A Tarde e A Noite de Lua Cheia”. As telas do artista exibem diversas paisagens inspiradas nos lugares que já conheceu, sempre com muitas cores e riqueza de detalhes. Naja gosta de representar a natureza em sua forma mais fiel “porque mostra a simplicidade [...] a simplicidade da vida”. Nesse momento, a entrevista é interrompida por um homem que pergunta o preço dos quadros e deixa o elogio: “Você é um artista meu irmão, parabéns!”

"Agora meu sonho ainda não foi realizado: a Europa!”

Entre os países pelos quais já passou, Paraguai, Argentina e Uruguai, Naja destaca o Paraguai como um de seus preferidos, apesar de ter vivido momentos de tensão logo ao chegar. Ele relembra que ainda na fronteira acabou interceptado pela polícia nacional que só o liberou porque ele levava uma de suas obras: “Então eu mostrei o trabalho, disse que era brasileiro e meu lema ali era levar a minha arte e eles compreenderam”. O artista se diz feliz com as viagens que realizou porém confessa que ainda quer mais: “Agora meu sonho ainda não foi realizado: a Europa!”. Naja confidencia, por outro lado, que o cansaço da idade também já pesa sobre os ombros e que já pensou até em parar de pintar, mas garante que se sente realizado com o que conheceu nos lugares que percorreu: “se eu parar de pintar hoje, valeu à pena!”.

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